Tem uma doença grave se espalhando de forma viral e impactando fortemente a vida de várias pessoas pelo mundo afora.

Não, não é a COVID. É a SAPTEL: síndrome aguda da perda de tempo por excesso de lives.

Você, como eu e tantos outros empreendedores, investidores e seres humanos em geral, já deve ter visto este vírus circulando pelo seu inbox, grupos de WhatsApp ou feed em mídias sociais. Aquele convite numa arte visual, um assunto instigante escolhido a dedo para gerar interesse, nomes e imagens thumbnail de váaaaarios “experts” e o link pra aquela landing page fatídica que captura seu nome e email.

Enfurnados em suas casas, ansiosos e em dúvida sobre um cenário absolutamente novo, desconhecido e amedrontador, todos viramos presas fáceis de marketing de conteúdo na forma de lives e webinários.

Bobeou e pronto, você foi infectado. O primeiro sintoma é a inserção fácil e indolor no seu calendário, com link para adicionar ao Gcal ou Outlook. Como pulmão de um paciente grave de covid tomado pelo vírus, 1 das 8 preciosas horas do seu (im?)produtivo dia já estão seriamente comprometidas.

Falo com conhecimento de causa. Já participei de algumas lives e webinários, assisti várias e comecei a sentir os sintomas típicos dos infectados – FOMO (fear of missing out) de perder conteúdo valioso, vontade de aprender com luminares do mercado financeiro, da política, empresários, investidores !. Por fim, o sintoma mais preocupante – a perda de produtividade.

Como fica o XX (insira o hook de assunto aqui) num mundo pós-COVID?“. Quem resiste a um gancho tão forte ? Literalmente … contagiante?

Sendo sincero: já deu. Tudo que tinha que saber sobre o impacto COVID sobre você, família, negócio e indústria, você já deveria ter aprendido a esta altura do campeonato, particularmente após a overdose de lives na veia.

Note, não estou falando da doença COVID em si. Ela tem informações novas, números de mortos e infectados, progressos nas pesquisas sobre vacinas e tratamento, barbeiragens das autoridades, estado críticos de lotação de UTIs, caminhões frigoríficos para guardar corpos, valas sendo abertas em cemitérios, famílias tendo que enterrar membros queridos sem poder ver um rosto ou se despedir humanamente. Não é disso que estou falando, já que há muito ainda a aprender e sofrer com esta pandemia, cujo pico ainda está por vir pelo que tudo indica.

Eu me refiro à pandemia na perspectiva do impacto dela sobre seu negócio. O princípio de “retornos decrescentes” dita que os ganhos concretos de se investir tanto tempo em lives e webinários tende a ser menor, porque muito do que tinha que ser aprendido … já devia ter sido absorvido.

Não tem nada MUITO novo ou relevante além de entenda o impacto no seu negócio, corte custos óbvios, explore oportunidades de receitas, extenda seu runway, adapte-se a este novo cenário, cuide do seu time, preserve seu caixa.

Por favor, mais Excel, menos Zoom. Mais experimentos de tração, e menos webinários. Mais mindmaps, menos hangouts. Aprenda a gastar seu precioso tempo, e poupe-se do excesso de “lives com experts”.

Uma cepa de lives particularmente insidiosas e mortais à sua produtividade pessoal é aquela com mais de 3 pessoas. Ela é muito comum já que o organizador tende a chamar um moderador e daí colocar vários outros participantes para ter um “painel diversificado”. E também porquê cada participante em geral posta nas suas mídias, o que aumenta a chance de ter mais expectadores e audiência.

Pronto, tá feito o estrago. Só de “apresente-se aí”, mesmo com o pedido educado de rapidez por parte do moderador, já se vão 8 a 10 min por pessoa. Daí entra-se no conteúdo da live, e o moderador começa a passar o bastão entre os 3 hosts, que naturalmente não serão mal educados de falar por 15 minutos, porque cansa. Salvo honrosas exceções, o resultado final são chavões e platitudes, reciclagem de infos já sabidas ou repisadas em “lives” anteriores, conteúdos superficiais apesar de bem intencionados. Quando se vê, já se foi mais de 1 hora!, e chega o momento das considerações finais e obrigado pela sua presença. Ao final, você espreme e, ao invés de um caldo concentrado de conhecimento, na maioria das vezes sai suco ralo de informação.

Embora tenha atingido seu ápice por conta da COVID, a SAPTEL (de novo, síndrome aguda da perda de tempo por excesso de lives) vem na esteira de uma pandemia maior, a da superficialidade. Os Stories de 15 segundos, a rolagem de feed visuais com clik de coraçãozinho na imagem Instagram (mas nada de leitura do texto ou engajamento em comentários), do consumo rápido de mensagens WhatsApp circuladas em grupos, dos tweets de 140 caracteres limitados by design. Uma espécie de pandemia de tldr (too long, didn’t read).

Deixamos que plataformas digitais e influencers sequestrassem nosso tempo, e ficamos reféns, anestesiados e viciados em conteúdo rápido, superficial. Shots de adrenalinas na forma de Likes, Corações e novos Follows. Responde aí: qual foi a última vez que você leu um livro de 200 páginas ? Fez um curso de 8 horas ? Escreveu (ou leu !) um blog post ou Linkedin article com mais de 1000 palavras?

Vacina, ops, cura !
Mas trago boas notícias. Felizmente, a SAPTEL tem vacina. No seu caso, desde que você admita que já foi infectado, melhor ainda: tem cura!

A auto-reflexão é o primeiro passo profilático. O tratamento segue com doses cavalares de compreensão dos interesses por trás das lives de branding, dos cata-contatos para mail marketing posterior. De repente, você se vê no topo de um funil, fogo ligado e você está sendo “aquecido” com aquela cadência de email reforçando “sua dor”, mostrando um case de sucesso de uma empresa igual à sua, sugerindo clique neste “call to action botão grandão” aqui para usar o freemium, ativar o trial, colocar seu cartão, validade e código de 3 dígitos, ou quem sabe um pedido de “qual o melhor horário para conversarmos sobre minha proposta comercial“?

Como um paciente sendo desentubado que recobra a consciência e passa a respirar com o próprio pulmão, você acorda para a compreensão do seu papel como dono da sua agenda, guardião da sua atenção, reitor do seu aprendizado, responsável pela própria iniciativa, protagonista do seu futuro.

A alta hospitalar se dá quando você se mostra capaz de reconhecer o tempo como o mais valioso dos ativos. Que a live “grátis” cobra um preço alto, pago com esta moeda preciosa. Inexorável, ela vai se acabando a cada segundo, sem que ninguém saiba quanto ainda tem restante até o fim. Ao contrário da volatilidade dos ativos listados em bolsa, a cotação deste ativo deveria subir exponecialmente, tamanho seu valor. Cada minuto passado é um minuto perdido. Cada novo minuto é uma chance de ouro que deveria ser resguardado e saboreado como se fosse o último.

E, assim como aumenta o distanciamento social, usa máscaras ao sair de casa e evita aglomerações, você agora aumenta sua produtividade, usa melhor seu tempo e evita o excesso de lives.

Parabéns. Você é um sobrevivente da SAPTEL, e está curado. 😷

#fiquebem #fiqueem casa #fujadoexcessodelives